O equilíbrio ideal de minerais no solo, conforme o sistema do Dr. William
Albrecht.
Do livro
“Hands-on Agronomy”
De Neal Kinsey and Charles Walters
Interpretações “tropicais” de Marsha Hanzi.
O importante não é a quantidade dos minerais em si, mas a proporção entre
eles. Assim o cálcio deve ocupar 60-68 por cento da saturação enquanto o
magnésio deve ocupar 12-20 por cento. A
proporção com mais magnésio usa-se nos solos arenosos, porque ajuda
“fechar” o solo enquanto o
cálcio “abre”. Assim, com excesso de cálcio o solo pode ficar “aberto”
demais e perder a sua umidade.
Esta é a relação que existe no húmus! Infelizmente aração e capinação na
enxada aumentam a
velocidade do consumo do húmus. Assim seria uma maneira de artificialmente
imitar a relação que teria
se tivesse uma boa quantia de húmus no solo (pelo menos 5%,conforme Dr.
Albrecht.) Nos solos
tropicais onde o metabolismo do solo é muito rápido precisa-se um aporte
de matéria orgânica
constante para manter uma porção de húmus no solo. Ana Maria Primavesi
argumenta que nos solos
tropicais o importante é manter a estrutura do solo para que as plantas
possam desenvolver sistemas
radiculares imensos. Dra. Elaine Ingrahm, microbiologista, argumenta que,
com um solo muito vivo, as
raízes podem alcançar grandes profundidades, tornando qualquer adubação
desnecessária. (Ela usa
“chá de composto” e composto para tal). A própria Ana Maria Primavesi
afirma que, num solo vivo, não é
necessário adubar (embora que ela faz aportes de certos minerais no caso
de mostrar deficiências.)
Kinsey afirma “As leis de física, química e biologia mostram que pode-se
obter colheitas sem
fertilizantes, mas não sem fertilidade. Certos fertilizantes podem
melhorar o nível de fertilidade do
solo. Mas , em certos casos, estes mesmos fertilizantes podem prejudicar o
nível da fertilidade do solo,
se for em excesso.”
“O primeiro princípio de fertilidades do solo é alimentar o solo....Não
estou falando em alimentar a
planta, estou falando em alimentar o solo para que este alimente a
planta...Para alimentar a planta
precisa-se de fertilidade a curto prazo com grande impacto....O resultado
é que os micro-nutrientes se
tornam indisponíveis.... (Em caso de emergências nutricionais) o melhor
sistema seria de alimentar as
plantas pelas folhas usando um adubo foliar, e de fazer isto somente no
caso de necessidade, como
estabelecida por uma análise cuidadosa da planta.” (p.6-7)
(p. 16- O médico que consultou Kinsey por causa da sua horta afirmou que o
nosso corpo precisa as
mesmas relações de elementos do que o solo. Assim muitos problemas que os
médicos enfrentam tem
relação com a saúde do solo.
Húmus: 25% ar, 25% água, 50% minerais. “ a composição básico dos reinos
planta e animal, conforme
que decompõem, se transforma em húmus, o que corresponde à composição dos
solos mais
produtivos”. (p.17)
Cálcio: “O cálcio serve , no crescimento da planta, para mobilizar outros
elementos químicos essenciais
com mais rapidez. ...É associado com os alimentos para os processos
microbiais do solo que acumulam
o nitrogênio do solo. Também ajuda na decomposição mais veloz dos adubos
verdes e da matéria
orgânica para a utilização pelas culturas. Toda vida, desde a menor
micróbio até o próprio homem,
depende de um bom aporte de cálcio disponível no solo. (D.r Albrecth, The
Albrecht Papers, Vol.
III.1989)”
Se você analisa o solo e as rochas de uma região, vão mostrar a mesma
composição. Se tem cálcio nas
rochas, terá cálcio no solo. Se tiver bastante magnésio nas rochas, terá
bastante magnésio no solo. Se
o solo não foi transportado para dentro ou para fora por erosão, as rochas
e os solos de uma certa
região serão irmãos. (p.22)
Areia vs. Argila: A areia não conserva os nutrientes: precisa de ajuda
constante. A argila é mais difícil de
trazer para o equilíbrio do que a areia, mas uma vez equilibrada, fica
relativamente estável por muito
tempo. É somente as partículas de argila na areia que retém os nutrientes
em areia. (Marsha: e as
partículas de húmus!)
(p30) Os colóides são partículas de argila reduzidos ao seu menor tamanho
possível. Têm uma carga
negativa. Os fertilizantes têm uma carga positiva, e são atraídos aos
colóides. Ca, Mg, Na. H,são de
carga + (cátions). N, P, S são anions (-).Não se fixam nos colóides. A
maior parte das reações químicas
do solo são regulados pelos colóides.
Os colóides têm sua origem na argila ou na matéria orgânica. Estes
partículas são fáceis de perder: a
poeira levada pelo vento é muito fértil.
A melhor forma de testar absorção atômica. (Muitos laboratórios só estimam
a quantidade de argila.) CTC. Capacidade de Troca de cátions.Na+, K+, H+, Ca++,Mg++ (estes podem
deslocar os +).
Kinsey: O solo ideal: CTC 12, pH6.3, húmus 5.1%,(45 kg N por estação,
alimentação lenta)(Húmus
conserva o boro, N,S, numa forma disponível para as plantas. (p.50) Ca-60-70%,Mg
10-20, os valores
mais altos de Mg para areias abaixo de 4.0 TEC (total exchange capacity-
inclui Na).
Ca-Mg influenciam a estrutura do solo.
K-3-5%. Uvas, algodão, plantas lenhosas 7-7.5%. H- 10-15%. Um pouco de
acidez aumenta a
disponibilidade de P, K, e outros nutrientes.
Outras bases 2-4%.(micro elementos). Se o solo está equilibrado e os micro
nutrientes estão
presente, estes se tornarão disponíveis. Mas em muitos solos os micros
estão deficientes.
Ca (Cap3, p.57). Húmus: a capacidade de retenção de água diretamente
relacionada ao conteúdo em
húmus. Abaixo de 2.5% húmus os minerais lixiviam, e a microvida mal
consegue sobreviver. Com muito
húmus surge deficiência em cobre. Húmus- já decomposto, diferente do
conteúdo em matéria orgânica
(que é normalmente medido nos laboratórios). O húmus tem três vezes mais
capacidade de retenção de
nutrientes!
Vantagens de húmus : melhora a estrutura do solo; fomenta a micro vida;
ajuda na solubilização dos
minerais de fontes não-solúveis; disponibiliza melhor os micro elementos
através do processo de chelação; alto CTC; conserva água; aumenta o efeito “buffer”; contém
elementos que estimulam o
crescimento da planta; controle biológico graças a alta população de
micro-vida; reduz a toxidez de
alguns minerais em excesso.
Se trabalha um campo molhado demais, este se torna anaeróbico, e perde-se
o húmus imediatamente!
Para criar húmus precisa-se de um C/N de 10/1.
pH: influenciado por Ca, Mg, K, e Na. Toda cultura produz bem em solos
equilibrados, mesmo que tolerem
solos mais ácidos ou alcalinos. (p.64)
Todo solo tem Ca suficiente, o problema é com lixiviação e
indisponibilização do elemento. (p69)
Carbonatos na água de irrigação podem indisponibilizar o Ca e por
conseqüência os outros elementos.
Excesso de N em forma de nitrito pode causar lixiviação de Ca. Tendência
de usar excesso de N.
(p74)Em qualquer programa de fertilidade de solo a longo termo o Ca tem
precedência.
Deficiência em Ca dificilmente se torna visível no campo. Ca coloca o
amido nas folha, ativa vários
sistemas de enzimas, reduz acidez do solo, melhora atividade microbial.
Ajuda na absorção dos outros
nutrientes ( se não em excesso!) O gesso é uma fonte de cálcio ( e
enxofre) mas deve ser usado somente
quando o cálcio está adequado.
Se calcário é aplicado em forma de pó fino ( 60% passa uma peneira de
100), 1/3 se torna disponível no
primeiro ano, 1/3 se torna disponível no segundo ano e 1/3 fica para o
terceiro ano. (p77)
pH acima de 6.5 o cobre e zinco podem se tornar indisponíveis. Kinsey não
se preocupa com pH e sim
com o aporte correto de Ca e Mg. O pH se normaliza sozinho.
Ca em excesso ( acima de 80% saturação) pode “travar” Mg, K,Bo,Z, e Cobre,
por causa do efeito no pH.
Alto k = menos Mn
Alto N = menos Cu
Alto ca = menos k
Cap4(p85):
Magnésio
Magnésio faz parte da clorofila. Ajuda no metabolismo do fosfato. Ativa
vários sistemas de enzimas.
Chave para a quantidade de ar e água no solo. “Fecha” o solo. Afeta pH do
solo mais do que Ca. Mg em
solos nativos reflete a rocha-mãe. Deficiências normalmente em areias
grossas ácidas. ++carga.
Deficiência: estrias brancas ao longo das veias da folha e uma cor
arroxeada no lado de baixo da folha.
Num solo fértil, se tiver Mg saturação 12, Ca 68%, P, K, e micros
adequados, precisa-se de 1 libra de N
para produzir um “bushel” de milho ( e não 1.5 como dizem).
Para leguminosas, Mg saturação deve ser abaixo de 12%.
Qualquer cátion pode travar qualquer outro cátion. Em solos de baixo CTC (TEC)
alto K trava Mg,
especialmente em solos arenosos,
Excesso de MG: cada vez que aumente Ca por 1%, MG, diminui por 1%.
No laboratório só se mede o Ca disponível à planta. Pode haver muito mais
Ca livre no solo.
Teste informal de Mg: Com um trado vazado no lado, tire uma amostra do
solo, e com o polegar teste a
resistência do solo a cada camada. Se sentir resistência já com 12 cm, Mg
deve ser 20-30%. Se
resistência aos 60cm,Mg abaixo de 20 mas acima de 15%. Se resistência a
100cm, provavelmente
tem um nível por volta ou abaixo de 12%, desejável.
Condicionadores de solo ( não explica, mas parece ser micro-organismos
comerciais) ajudam muito na
estruturação de solos, para ajudar corrigir compactação. (p104)
Cap5 – Nitrogênio (p109)
Deficiência no milho: um “V” nas folhas mais velhas, começando nas folhas
mais velhas. ( se for
deficiência de K, as folhas começam a secar pelas bordas).K tem muito a
ver com a produtividade de
milho.
Em condições boas 70% do N pode provir de nodulação. Se a planta da
família de gramínea fica
amarelada, não é necessariamente N – verifique se a ponta da folha mais
velha está amarela.Pode ser
carência de P, S ou até Bo.
Depois de bonecar, N na forma de amônia pode ainda melhorar o teor de
aminoácidos no milho. Não é
somente os rizóbio que fornecem nitrogênio – algumas algas e outras formas
de vida no solo também o
oferecem.
5.1 húmus = 45 kg N/acre. 2.3 húmus = 30 kg.
Até 40 T/tarefa (acre) de húmus de minhoca pode ser produzido no local ,
sob certas condições.
(p119)
Para a vida microbiana funcionar bem, a relação ca/Mg precisa ser correta.
Estercos : metade está utilizada no primeiro ano, outra metade no ano
seguinte. Esterco “espanta”
cálcio, a menos que o animal recebeu suplementos ( como no caso de
galinhas poedeiras).
Esterco fornece N, K, P, mas pode reduzir Ca.
N aplicada na hora certa pode dobrar a colheita de milho.
Cap. 6 – fontes comerciais de N..
N em excesso leva Ca embora, desequilibrando Ca/Mg. 2 lbs de S levam
embora 1 lb de Mg, se o Ca está
adequada. Os sulfatos se movimentam com a água mas menos do que o N.
Capítulo 7 (p.157)- Fósforo (P)
Fosfato tem carga três minus, pouco móvel no solo.
Prezados amigos,
Tenho pesquisado muito ultimamente sobre a fertilidade do solo, tentando
entender o porquê dos
nossos solos serem tão lentos de responder aos nossos tratos. No processo,
cheguei a algumas dicas
que acho interessantes para todos. (Peço desculpas aos amigos agrônomos se
estas dicas já são
super-conhecidas! São novas para mim...)
Saturação de bases
Um professor de solos norte americano dos anos 50, Dr. William Albrecht,
argumenta que o que é
importante no solo é a relação entre os minerais. A base da estrutura do
solo é a relação de saturação
magnésio/cálcio. A soma dos dois deve ser 80%, sendo em solos arenosos
20/60 e em solos mais
argilosos 12/68. (O cálcio deixa o solo mais “aberto” e o magnésio
“aperta” os poros em solos abertos
demais). Ele argumenta que os outros adubos terão o efeito desejado
somente a partir do momento
que este equilíbrio seja alcançado.
O que é interessante nisso é que isto é a relação que se encontra no
húmus! Então o agricultor que
segue este programa está simplesmente reconstruindo o equilíbrio químico
que teria se tivesse
bastante húmus no solo. (E a aplicação de nitrogênio demais destrói este
húmus, o que é comum de
acontecer). O problema é que o húmus é muito difícil de criar e mais
difícil ainda de conservar nos solos
do Sertão.
Acho que isto explica porque na região da mata, onde conseguimos taxas de
decomposição violentas, a
resposta é tão rápida mesmo em cima de solos arenosos e pobres, enquanto
nas nossas areias aqui,
onde há longos meses onde o material oxida em vez de decompor, AINDA não
há esta resposta.
Neste mesmo livro (Hands-on Agronomy de Neal Kinsey) apareceu uma outra
resposta a uma indagação
minha. Sempre me perguntava o que determinava o sabor da fruta (melancia
doce, etc.) Ele diz que isto
depende do enxofre (uma vez o equilíbrio das bases estabelecido). Areias
são pobres em enxofre por
causa da lixiviação. A maior fonte é da matéria orgânica, mas ele
argumenta que muitas vezes isto não é
o suficiente. Como visamos alimentos da mais alta qualidade (e sabor!)
aqui em Marizá, isto certamente
vai ser uma área a ser pesquisada!.
O ano que vem vamos analisar o equilíbrio de bases depois deste manejo
para ver se precisa fazer uma
intervenção específica com calcário e outros minerais.
A propósito: estamos encontrando minhocas nos campos de plantio! Viva!
Terra preta de índio
Em Amazonas existem manchas de terra fértil criada pelo homem. Foi
constatado que têm grandes
quantidades de carvão, (resultado de fogos lentos), pedaços de cerâmica e
ossos. Parece que (ainda
está sendo pesquisado) este carvão cria micro-habitats para a vida
microbiana do solo e facilita a
retenção dos nutrientes (na região os solos são arenosos e pobres, como
aqui em Marizá). Os pedaços
de potes de barro devem oferecer a mesma função pela sua porosidade.
Encontra-se ossos de animais e
peixes (fontes de fósforo e cálcio) e supõe-se que estas terras ainda
receberam estercos dos mais
variados.
O que é interessante é que estas terras mantêm suas taxas de fertilidade
ao longo de séculos! Parece
que a estabilidade do carvão é responsável para isto (enquanto a matéria
orgânica e as cinzas se
gastam com o tempo).
Assim estou começando a enterrar carvão nos canteiros e espalhá-lo nos
campos! (A recomendação
provisória é 30% de carvão nos primeiros 30 cm de solo.) Na região as
pessoas queimam todos os
resíduos lenhosos (galhos de cajueiro, cascas de coco, etc.). Claro que o
ideal seria de não queimar, mas
isto vai levar tempo. Este material pode vir a ser a fonte do carvão para
os agricultores, junto com os
resíduos das padarias, casas de farinha e fogões a lenha, embora que
pareça que há uma resposta maior
com carvão de queima lenta, a baixas temperaturas.
Vou fazer experiências com cascas e talos de coco, queimando-os num fogo
abafado para encorajar a
formação de carvão em vez de cinzas. Ninguém sabe a velocidade desta
resposta já que as “terras de
índio” têm mais de mil anos! Mas é fácil de ver a lógica! É simplesmente
uma estratégia anti-lixiviação,
fundamental para os nossos solos arenosos e pobres. (A matéria orgânica em
si é consumida, enquanto
o carvão é estável. Assim é importante dispor dos dois dentro do solo.)
No futuro, quando podermos colher a jurema preta para lenha, vamos ter uma
fonte constante, se
pequena, de carvão e cinza.
Li agora que o manganês estimula a germinação. Isto tem sido um problema
aqui. O manganês é
disponibilizado pela presença de estercos e certos tipos de composto....
Mais uma dica! |